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domingo, 21 de outubro de 2007

Cristianidades

Vômitos disertos

Manchei de negro a alva página,
Pensamentos ilógicos.
Vontades nem tão santas.
Manchei de lágrimas impuras
A alva página casta,
Expurguei o rancor que me azedava o estômago.
Reflexos distorcidos de uma imagem desconexa,
Pintura abstrata espalhada na calçada imunda.
Dissertei minha dor com letras profundas
Pontiagudas letras a dilacerar a alva página...



Esta palavra

Esta palavra que desliza
Libidinosa de tua boca.
Esta palavra que escapa
Desvairada e louca
Esta palavra que foge
Que verte de suas roupas.
Esta palavra que às vezes
É resto, suja e rota.
Esta palavra...



Espelho torto

Tem vez que me desfaço
E vejo o rosto ao avesso...
Outras vezes me desosso
Vísceras
Sangue
Desgostos...
Tem vezes que meias palavras
Se unem inimigas
E dissertam incompletas verdades escondidas
...e me distorcem!


Meu mundo de escuridão

Nas frases tortas que se
Desprendem de minha caneta.
Mudas verdades expostas,
Versos e palavras mortas,
Pedaços incompletos de meu ser.
Diário sem folhas...
Restos amargos,
Sonhos desfeitos, unidos,
Expelidos,
Expurgados...
Universo amargo que engole meu viver...

Palavras

Corro a caneta de tinta negra, sobre a folha virginal, branquíssima , do caderno.
Tento juntar as palavras, palavras dispersas, brincando de pique-esconde em meu quarto.
Olhos ávidos de um lado à outro em frenética busca e nada!
Quiçá tenham fugido com a inspiração a procura de talento...
Continuo a procura e encontro uma aqui e outra acolá!
-Trinta e um meu!!! Grita uma lá!!
Palavras tristes, carregadas de saudades passadas, vivas em meu coração. Lembranças tristes dos dias felizes, paradoxais recordações...
Nomes e sobrenomes desfilam em minha frente, contentes, plangentes, delinqüentes.
Entre risos e lágrimas, palavras.
Doces, amargas, palavras...
Juntam-se, formando uma escada. Não sei se subo ou desço.
Alegro-me, entristeço...
Rima boba não tem preço!
Palavras coloridas, carnavalescas passam sambando com comissão de frente e tudo!!
Talvez o álcool tenha me deixado confuso!!
Palavras rotas, bêbadas, escrotas arrastam-se sob a cama.
Cato uma ou outra e mais recordações...
São palavras velhas, pintadas a mão, só pra disfarçar antigas desilusões!
Outras correm pelo quarto, desnorteadas, entre gritos e risadas, de um canto a outro, desvairadas.
Palavras loucas, desprendidas de emoção.
Saem palavras de meu violão.
Insinuantes, musicadas, sem desafinação.
Espiam de dentro do armário, mergulham no aquário.
E lá vêm elas!!! Aos montes, de todos os lugares!!
Saem das frestas, contentes a pular pra dentro de minha caneta.
Umas choram, outras sorriem.
As mais tímidas olham desconfiadas.
Com sorrisos emprestados, escapam palavras sofridas, maquiladas de felicidade.
As mais teimosas me olham com desdém!! Empacadas batem o pé!! Não devem obediência a ninguém!
Palavras toscas sem razão, alienadas, esquecidas indicam uma direção.
É um caminho ladrilhado de consoantes, ladeado por um jardim de vogais, onde brotam pontuações...
E eu??
Eu respiro lento, contendo a raiva pelas palavras amargas que desfilam sarcásticas a me encarar.
Palavras de ódio, vestindo branco pra disfarçar!!!
Palavras, palavras...
Castas, depravadas palavras.
Unindo-se, dissertando minha ilusão.
Rabiscando de negro, antiga paixão.
Letrando o rancor...
Alfabetizando a saudade.
Palavras jogadas de qualquer jeito, com olhos fechados por este escritor covarde.
Sem virtude;
Sem atitude.
Que não tem amor, apenas saudades...
Sentimentos acanhados, escondidos de pavor em palavras prolixas, intumescidas de ardor!
Palavras insuetas, atestando dissabor...
Palavras curtas, palavras compridas...
Palavras escravas, palavras amigas.
Umas consolam, outras, deploram.
Cheias de intenções desconexas.
Palavras oblíquas.
Palavras grosseiras.
Palavras, apenas palavras...

A rua

Chovia muito e o vento frio prenunciava a chegada do inverno.
Abrigado sob uma marquise de uma loja, fujo dos pingos da chuva, e, quando me dou conta, me vejo em uma ruazinha com ares de passado...
É tarde e as poucas lojas ajeitadas em seus prédios antigos, já estão fechadas, a cidade começa a morrer e tudo vira sombra e silêncio quando anoitece...
Nos paralelepípedos já gasto de tantos passantes, reflexos das luzes de mercúrio e o brilho dos faróis dos poucos carros, vindo de não sei onde e indo pra onde só eles sabem...
Num canto escuro, próximo a um prédio condenado, sacos de lixos amontoados, são disputados por cães, gatos e um mendigo barbudo, com várias roupas sobrepostas e um saco plástico transparente sobre tudo, completando sua esdrúxula figura, garimpando algum resto da comida de alguém.
A chuva não cessa, apenas os passos diminuem; um ou outro par de pernas passa apressado, oculto sob negros guarda-chuvas ou sombrinhas multicoloridas.
Um rosto se ilumina pela brasa do cigarro num canto escuro do outro lado da rua, é uma moça muito maquilada e de roupas extravagantes, recostada em uma parede embolorada, de olhares insinuantes, traga a fumaça, soltando em seguida uma fina névoa por entre os lábios voluptuosos...
Surgem outras, espectros sensuais saem de cantos úmidos, esgueirando-se lânguidas...
Esta viela, aqui, esquecida, quase engolida por prédios colossais e pelo asfalto negro, perdida neste presente antropofágico, infestada de lojinhas e placas coloridas, com seus prédios sem vida, apáticos, vendo a cidade crescer, ainda conserva resquícios do tempo em todos se cumprimentavam nas ruas e andavam devagar, com damas e senhoras pudicas de passinhos curtos, desfilavam ao lado de austeros senhores...
Hoje mendigos famintos e prostitutas amargas se acotovelam em suas calçadas, ávidos do prazer capitalista.
Apenas o pingos das calhas é ouvido e da chuva na calçada, nenhum carro, nenhuma conversa, ninguém; sinto os dedos dos pés congelarem.
O mendigo espalha o lixo e pragueja irritado, pantomímico, gesticula para alguém...
quiçá converse com a rua.
Um automóvel se aproxima, encosta perto de uma das prostitutas, ela se curva na janela no carro, trocam algumas palavras, entra no veículo e partem...
A chuva dá uma trégua, sacudo a preguiça, saio de meu esconderijo e agora sou eu quem parte em direção ao meu destino.
O vento frio castiga, corta o rosto como navalha, dou um última olhada pra ruazinha e a deixo com seus estranhos habitantes...
Sinto vontade de dar adeus...

Pena (Cristianidades)

Pena (Cristianidades)

Pobre Curitibano é que sou,
Pobre Curitibano despatriado.
Catarinando por estes lados,
Suando em bicas,
Saudades do ar gelado.
Pobre Curitibano é que sou.
Chorando amores perdidos,
Chorando amigos passados.
Esquecidos em algum lugar.
Congelados em retratos
Mofando no meu armário.
Saudades contidas
Lágrimas caídas...
Pobre Curitibano é que sou.
Saudoso do cinza
E daquela gente tímida e reservada.
Dos rostos austeros e individuais,
Congelados de frio, sem sorrir,
De medo que o rosto se parta...
Pobre Curitibano é que sou...
Sufocando com minhas ilusões
Abafado num quarto, ausente,
Enquanto um ventilador sopra
Sôfrego o ar quente...
Pobre Curitibano é que sou.
Ególatra, solitário poeta
A rabiscar amenidades absolutas
Disfarçadas em tímidas poesias
Descompostas...

Amigo

a
am
ami
amig
amigo
amigo n
amigo nó
amigo nós
amigo nós t
amigo nós te
amigo nós tem
amigo nós temo
amigo nós temos
m
a
s
um dia se vão,como vento que
bate lento e empurra a pe
quena embarcação...

A Prostituta

No canto escuro
Corpo, alma vulto...
Lânguida criatura
Desfila libidinosa e
insegura...
Um ou dois passantes
Inconsoláveis com seus
Corvos sobre os ombros.
"- Corvos gordos, robustos!!"
E a alma perdida,
Esfumaceia a avenida
Ferindo o silêncio com seu salto!
Passo à passo, sangra a calçada,
Em suas costas,
Marcas das asas amputadas
Ainda sangram...