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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Valquíria

Ali está ela, recostada, taciturna, misturando-se ao cimento enegrecido; Valquíria.
Apenas Valquíria, Valquíria de nada nem de ninguém.
Nem filha fora, muito menos irmã!
Valquíria sem religião, sem compaixão... Valquíria mulher.
Ela e sua boca vermelha, com seus olhos cinza, roupas justas, pernas amostras, carne exposta, esviscerada na calçada.
Valquíria dos desejos, voluptuosa, com seus longos cabelos loiros, pele alva como a lua, serpenteia libidinosa, quase nua, lânguida criatura, estuprando a rua com seus saltos a quebrar o silêncio.
Valquíria noctívaga, amiga das sombras dama madrugada, com seu cigarro a iluminar a escuridão.
Valquíria sem opinião e sem razão. Mergulhada em um copo de vodcka barata a delirar utópicas fantasias etílicas.
Ébrias visões de Valquíria.
Valquíria da inconstância e da incerteza, da meia fina da quase seda.
Do perfume enebriante.
Valquíria da lágrima contida, da alegria perdida sem vida.
Valquíria que quando a lua se guarda e a madrugada se finda, sem maquilagem e com sonhos borrados, vira Maria das Dores, nome de santa, pra não tão santa sem valores.
Das Dores dos cabelos desengrenhados, rosto insone.
Do pigarro irritante e do escarro tuberculoso na soleira...
Das Dores do barraco de porta única. Mal afamada pela vizinhança hipócrita.
Das Dores, órfã, sem resposta, sem caminho...
Do cinzeiro entupido de xepa de cigarro e garrafas amigas, espalhadas no barraco.
Das Dores sem alma, sem amores.
Das Dores que, quando a noite enegrece o dia, volta a ser Valquíria...
... Não menos sem dores!

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