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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Um dia normal

Era um dia normal, de uma data qualquer, Joãos, Veras, Jozés iam prá lá e prá cá.
O sol brilhava e a lua intrometida aparecia falha e tímida naquele céu azul, azulíssimo.
Parecia ser um dia normal, contudo não entendia o porquê do chão estar macio e as paredes se mexerem libidinosas num libidinoso balé sensual.
Era um dia normal e como sempre, depois do trabalho assentava sua bunda gorda num banco de bar e assuntava conversas alheias, fumava, bebia...
Naquele dia abafado, o suor escorria-lhe na face avermelhada e na careca lustrosa, fustigada pelo sol.
Aquela cidade poluída e infernal, de um trânsito caótico e engarrafado, motociclistas suicidas passavam a mil por hora por entre minúsculos vãos, naquele amontoado de veículos.
Era um dia normal, as palavras lhe saíam confusas e embaralhadas da boca.
Passos tortos por caminhos confusos, vontades anestesiadas.
Um dia normal, numa cidade estranha, onde pessoas falavam de um jeito arrastado e forte, e, até alguns vestiam roupas diferentes para o dia a dia, já vira alguns com bombachas e botas longas, vestimenta típica do gaúcho. Sentia-se deslocado por entre aquela gente, se sentia sempre deslocado, nos seu vai e vem por aeroportos e rodoviárias, seu pula-pula de cidade em cidade...
Longe de sua gente, de sua cidade, sem fronteiras, sem raiz, sempre com a mala pronta.
Passando de cidade em cidade, com suas amizades instantâneas e conversas pela metade.
Amizades biodegradáveis...
No quarto vazio, com suas paredes mortas, caiadas de solidão lhe aguardava somente a mala meio desfeita, sobre a cama já arrumada pela camareira do hotel.
Só o álcool amigo supria a sua necessidade, sua saudade...
Era um dia normal, sob seus pés, vertigens abissais lhe acautelavam o caminhar o caminhar pela rua sinuosa e lenta.
Visões etílicas desfilavam libidinosas e envolventes, paredes esquivas impediam-lhe o toque.
Todos lhe pareciam tão diferentes e esguios.
Paisagem girante...
Turbilhão alcoólico de espectros assombrosos, com suas feições decompostas.
Era um dia normal e o álcool transmutava tudo e embrulhava seu estomago dilatado.
Agônico e suado expurga seu azedume e decora a imunda calçada com sua abstrata e ocre obra...

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