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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Pranto

O louco desgosto
aspiro isto que é pouco
e me lanço solto
pouco a pouco
despenco no poço.

Pedaços, pequenos pontos
iluminam meu rosto santo
riscam-me a face em pranto.
Pranto louco deste pouco
Neste todo que é desgosto...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Vômitos dissertos

Manchei de negro a alva página,
Pensamentos ilógicos.
Vontades nem tão santas.
Manchei de lágrimas impuras
A alva página casta,
Expurguei o rancor que me azedava o estômago.
Reflexos distorcidos de uma imagem desconexa,
Pintura abstrata espalhada na calçada imunda.
Dissertei minha dor com letras profundas
Pontiagudas letras a dilacerar a alva página...

Meu mundo de escuridão

Nas frases tortas que se
Desprendem de minha caneta.
Mudas verdades expostas,
Versos e palavras mortas,
Pedaços incompletos de meu ser.
Diário sem folhas...
Restos amargos,
Sonhos desfeitos, unidos,
Expelidos,
Expurgados...
Universo amargo que engole meu viver...

Espelho torto

Tem vez que me desfaço
E vejo o rosto ao avesso...
Outras vezes me desosso
Vísceras
Sangue
Desgostos...
Tem vezes que meias palavras
Se unem inimigas
E dissertam incompletas verdades escondidas
...e me distorcem!

Alguém tem a resposta?

Queria saber de muita coisa...
Queria saber de onde vem a lágrima santa,
Saber o porquê escorre solta
Salgando a boca insossa
Queria saber da felicidade
Saber onde se esconde
- Por favor, que alguém me conte!
Queria saber sorrir livremente,
Não apenas apertar os lábios displicentes,
Sorrir verdadeiramente
Queria saber de muita coisa...
Entender isso que chamam de amor...
Saber o motivo desta minha dor,
Que há muito me rasga o peito.
Queria saber sobre a saudade
Porque quando fica tarde, ela chega sorrateira
E minha mente invade...
Eu, infeliz covarde, choro escondido, incompreendido...
Queria saber destas histórias incompletas,
De todo que ficou pela metade,
Que fim teria tudo?
Vida de cacos...
Queria entender estas minhas noites insones
Perdidas em divagações desconexas.
Estes nomes e rostos morcegos no quarto,
Obscuras saudades insensíveis...
Queria saber de muita coisa,
Entender estas letras que se juntam
E escrevem o quê sinto quando estou só,
Abandonado em meu mundo fechado...
Cercado de escombros de vidas passadas.
Queria entender a vida...
Que um dia se encerra e um ente se oculta sobre a terra...
E o todo se incompleta.
Queria entender muita coisa...

Antropófagos urbanos

Na urbe, imune criatura
Arrasta-se insegura,
Agarrada a vida
Desalmada e burra
Com seus olhos carentes
E ilusões de felicidades...

Insana madrugada

Madrugada; todos dormem,
Solitário corto palavras,
Risco sentimentos enclausurados.
Um silêncio mórbido...
Nenhuma fala.
Ouço um cão ladrar ao longe
Suspenso num frenesi louco,
Vomito sensações doentias
Fantasias luxuriosas
Farrapos estáticos...
“- Respeitável público!”
Grito rouco d’um palhaço louco em minha mente,
Demente,
Minto;
Verdadeiras hipocrisias contidas
Em bolsa de couro legítimo,
Pigmeus antropofágicos me roem os dedos dos pés...

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Um dia normal

Era um dia normal, de uma data qualquer, Joãos, Veras, Jozés iam prá lá e prá cá.
O sol brilhava e a lua intrometida aparecia falha e tímida naquele céu azul, azulíssimo.
Parecia ser um dia normal, contudo não entendia o porquê do chão estar macio e as paredes se mexerem libidinosas num libidinoso balé sensual.
Era um dia normal e como sempre, depois do trabalho assentava sua bunda gorda num banco de bar e assuntava conversas alheias, fumava, bebia...
Naquele dia abafado, o suor escorria-lhe na face avermelhada e na careca lustrosa, fustigada pelo sol.
Aquela cidade poluída e infernal, de um trânsito caótico e engarrafado, motociclistas suicidas passavam a mil por hora por entre minúsculos vãos, naquele amontoado de veículos.
Era um dia normal, as palavras lhe saíam confusas e embaralhadas da boca.
Passos tortos por caminhos confusos, vontades anestesiadas.
Um dia normal, numa cidade estranha, onde pessoas falavam de um jeito arrastado e forte, e, até alguns vestiam roupas diferentes para o dia a dia, já vira alguns com bombachas e botas longas, vestimenta típica do gaúcho. Sentia-se deslocado por entre aquela gente, se sentia sempre deslocado, nos seu vai e vem por aeroportos e rodoviárias, seu pula-pula de cidade em cidade...
Longe de sua gente, de sua cidade, sem fronteiras, sem raiz, sempre com a mala pronta.
Passando de cidade em cidade, com suas amizades instantâneas e conversas pela metade.
Amizades biodegradáveis...
No quarto vazio, com suas paredes mortas, caiadas de solidão lhe aguardava somente a mala meio desfeita, sobre a cama já arrumada pela camareira do hotel.
Só o álcool amigo supria a sua necessidade, sua saudade...
Era um dia normal, sob seus pés, vertigens abissais lhe acautelavam o caminhar o caminhar pela rua sinuosa e lenta.
Visões etílicas desfilavam libidinosas e envolventes, paredes esquivas impediam-lhe o toque.
Todos lhe pareciam tão diferentes e esguios.
Paisagem girante...
Turbilhão alcoólico de espectros assombrosos, com suas feições decompostas.
Era um dia normal e o álcool transmutava tudo e embrulhava seu estomago dilatado.
Agônico e suado expurga seu azedume e decora a imunda calçada com sua abstrata e ocre obra...

EU POETA

Tracei tortas letras,
Inverdades de uma vida exposta.
Contei falsas estórias
Mentiras, bem ajeitadas.
Eu, incrédulo demais para ser frade,
Pseudo poeta, completo covarde,
Dispersei silêncio
Dispersei vontades.
Escombros de minhas noites insones,
Abortos catados em valas fétidas,
Pedaços amputados, restos de vísceras
Com sangue enegrecido, coagulado.
Pintei sombrias telas,
Espalhei tinta, derreti velas, e,
Por trás de tudo isso, você...
Assombrando minhas noites mal dormidas.
De canetas em riste.
Espada cega a cortar sôfregas palavras.
Amarga criatura desalmada, desarmada...
Perturbado com minhas figuras,
Garatujas espalhadas em folhas castas.
Falsas certezas, carentes de respostas...

ANA, AGRA, AMAS

Anagramas brotam na grama,
Verdadeiras palavras ocultam o que se ama
Ana
Agra
Ama.
Disfarço vontades,
Disfarço verdades.
Palavras inversas
Ana
Agra
Ama.

O POETA MALDITO SENTE

O poeta maldito
Da dor e da lágrima
Das sombras e da escuridão.
Que grita mudas palavras,
Vontades obsoletas
Verdades mascaradas.
O poeta maldito
Que chora sangue
Em madrugadas insanas,
Que fere almas
E guarda absurdos,
Em seu baú na memória.
Amarelados fatos,
Fetos vitrificados,
Recordações doloridas,
Que estupram o âmago
E dilaceram a carne.
Explodem pelos olhos...
E lágrimas desprendem da alma.
O poeta maldito...
...chora.

PALAVRAS AO VENTO

Lá se vão palavras ao vento,
Dores, lamúrias, sofrimentos.
Lá se vão palavras ao vento,
Incertezas na busca de entendimentos.
Lá se vão palavras ao vento,
Versos meus,
Meus restos,
Rebentos meus.

Valquíria

Ali está ela, recostada, taciturna, misturando-se ao cimento enegrecido; Valquíria.
Apenas Valquíria, Valquíria de nada nem de ninguém.
Nem filha fora, muito menos irmã!
Valquíria sem religião, sem compaixão... Valquíria mulher.
Ela e sua boca vermelha, com seus olhos cinza, roupas justas, pernas amostras, carne exposta, esviscerada na calçada.
Valquíria dos desejos, voluptuosa, com seus longos cabelos loiros, pele alva como a lua, serpenteia libidinosa, quase nua, lânguida criatura, estuprando a rua com seus saltos a quebrar o silêncio.
Valquíria noctívaga, amiga das sombras dama madrugada, com seu cigarro a iluminar a escuridão.
Valquíria sem opinião e sem razão. Mergulhada em um copo de vodcka barata a delirar utópicas fantasias etílicas.
Ébrias visões de Valquíria.
Valquíria da inconstância e da incerteza, da meia fina da quase seda.
Do perfume enebriante.
Valquíria da lágrima contida, da alegria perdida sem vida.
Valquíria que quando a lua se guarda e a madrugada se finda, sem maquilagem e com sonhos borrados, vira Maria das Dores, nome de santa, pra não tão santa sem valores.
Das Dores dos cabelos desengrenhados, rosto insone.
Do pigarro irritante e do escarro tuberculoso na soleira...
Das Dores do barraco de porta única. Mal afamada pela vizinhança hipócrita.
Das Dores, órfã, sem resposta, sem caminho...
Do cinzeiro entupido de xepa de cigarro e garrafas amigas, espalhadas no barraco.
Das Dores sem alma, sem amores.
Das Dores que, quando a noite enegrece o dia, volta a ser Valquíria...
... Não menos sem dores!

A prostituta



No canto escuro
Corpo, alma vulto...
Lânguida criatura
Desfila libidinosa e
insegura...
Um ou dois passantes
Inconsoláveis com seus
Corvos sobre os ombros.
"-Corvos gordos, robustos!!"
E a alma perdida,
Esfumaceia a avenida
Ferindo o silêncio com seu salto!
Passo a passo, sangra a calçada,
Em suas costas,
Marcas das asas amputadas
Ainda sangram...

VERSOS, RESTOS DO UNIVERSO

VERSOS MEUS
RESTOS SEUS
UNIVERSO NOSSO

Inverso
Incerto
Inverto

NOSSOS RESTOS,
SEU UNIVERSO,
VERSOS MEUS.

VERSO QUE VERTE CERTO
ÚNICO VERSO QUE(RES/TO)DO MEU EU...